Legenda: Unidade de Saúde na Terra Indígena Zoé. Foto: Erik Jennings
Os povos indígenas amazônicos possuem como característica comum sua estreita relação com a floresta, contudo apresentam considerável diversidade cultural em relação a organização social, modos de vidas e visões de mundo. O conjunto de valores e crenças que permeiam a vida dos povos indígenas são decorrentes do processo de trocas culturais herdados na relação interétnica e entre povos indígenas e colonizadores da Amazônia. Diante desse panorama que envolve trocas culturais e relações intensas com seu meio natural, as concepções indígenas sobre saúde e doença, bem como suas práticas de cuidado, se distinguem em muitos aspectos importantes das concepções biomédicas não indígenas ocidentais.
Para os povos indígenas amazônicos todos os seres, sejam eles humanos, animais, plantas e outros possuem “almas”, “duplos” ou “espíritos” que interagem entre si.Assim, um indivíduo pode adoecer porque está sofrendo retaliações do “espírito” de determinado animal ou planta que comeu. A mesma concepção é acionada no uso de espécies nativas para fortalecer ou curar o paciente, o que ocorre por meio da influência do espírito da planta sobre o espírito ou espíritos do paciente.
Além disso, os espíritos da pessoa podem se alienar do seu corpo, causando-lhe doenças ou a morte, ou serem atacados por outros espíritos que procuram lhe fazer mal. Segundo diversas tradições indígenas amazônicas, esse mal que se abate sobre o espírito ou espíritos da pessoa é a causa efetiva de quase todas as doenças e cabe ao xamã ou outros especialistas na comunicação sobrenatural, recuperar o espírito alienado do paciente para que este possa voltar a seu estado saudável.
Tais concepções sobre a doença e cura não anulam o entendimento dos próprios indígenas de que também há doenças causadas por agentes patogênicos como vermes, vírus, bactérias etc. O sistema xamânico não é, portanto, incompatível com o sistema médico não-indígena. Na maioria das vezes, o que ocorre é uma separação dos dois domínios buscando então o tratamento médico quando entendem se tratar de doenças de “branco”, e o tratamento xamânico quando entendem se tratar de doenças causadas por ataques de espíritos. Não é raro que um paciente busque as duas soluções quando não há certeza da causa, e caso o remédio cure, ou o xamã, atribuir-se-á a causa da doença ao agente correspondente.
Já o conhecimento de plantas medicinais pelos povos indígenas amazônicos é extenso, adquirido ao longo de séculos. Tal conhecimento depende principalmente de transmissão oral entre conhecedores e membros da sociedade, fato que se agrava diante da perda da linguagem e a excessiva dependência dos sistemas oficiais de saúde.
Durante a pandemia de COVID-19, diversas fontes indígenas e pesquisadores relataram o papel fundamental dos conhecimentos tradicionais sobre plantas para amenizar os sintomas da doença evitando assim quadros mais graves quando não podiam contar com a atuação efetiva de agentes externos, como profissionais de saúde do Estado.
Assim, é possível e de fundamental importância que os agentes não indígenas de saúde tenham uma atitude respeitosa e não conflituosa em relação a tais concepções e práticas. Deve ser reconhecido e respeitado o papel dos especialistas indígenas de forma que as ações em saúde sejam executadas integrando e dialogando com as práticas tradicionais das comunidades em questão.
Observe no mapa interativo do Módulo Povos Indígenas, onde se localizam os territórios indígenas na região amazônica e observe as regiões fronteiriças estudadas pelos consultores da OTCA:
Clique nos ícones abaixo e obtenha informações gerais sobre cada um dos aspectos que caracterizam os povos indígenas amazônicos e como os elementos se relacionam com a sobrevivência dos povos originários.